Nas ruas de Buenos Aires, lei que restringe concessões divide opiniões.
Maioria dos entrevistados diz que governo tenta acabar com grupo 'Clarín'.
Eles vendem um dos bens mais precisos para qualquer cidadão de qualquer país: informação. E, na capital argentina, são eles, os donos de bancas de jornais e revistas, que vivenciarão parte da grande mudança marcada para acontecer na sexta-feira, dia 7, quando a lei que restringe a concessão de licenças de mídia entra em vigor no país. "Querem acabar com o Grupo Clarín. E com isso não estou de acordo", diz o vendedor Aníbal Mana, de 75 anos, 40 deles como jornaleiro de uma banca da Avenida Corrientes. Segundo ele, o principal jornal do grupo é responsável por 80% das vendas diárias.
A Lei de Meios, encabeçada pelo governo e promulgada em 2009, limita o número e a abrangência das licenças que cada grupo de comunicação pode ter no país. Na época da aprovação, o Grupo Clarín, o maior da Argentina, entrou com uma ação de inconstitucionalidade - até hoje não julgada - e conseguiu uma medida cautelar que se prolongou indefinidamente. Por ordem da Corte Suprema, essa medida deve terminar no dia 7, data alardeada como vitória da diversidade pelo governo. A briga continua na Justiça, e até esta sexta, é possível que haja nova decisão prejudicando ou favorecendo o Clarín.
"Na verdade eu até hoje não entendi o que é essa lei. É um problema político que não sei explicar. Creio que para as pessoas comuns é muito difícil entender", diz a jornaleira franco-argentina Nicole, que não quis ter o sobrenome divulgado.
Já para o dono de uma banca na Avenida de Maio, o princípio da lei é bom. "Estou de acordo. Acho que a Argentina precisava de uma lei assim, para demonopolizar todo o audiovisual. E o Clarín não vai desaparecer", diz Esteban Godano. Para ele, o dia 7 de dezembro é simbólico, e "nada deve acontecer de fato".
Para Osvaldo Tarsia, com banca na famosa Rua Florida há 40 anos, o assunto gera "temor". O temor passa pelos grandes grupos jornalísticos e vejo que nesse aspecto vejo um lado tendencioso por parte do governo. De todo modo, creio que o 7D é uma febre, como foi a gripe aviária, como foi o ano de 2001."
Enquanto os jornaleiros especulam sobre o que acontecerá com seus produtos, o país espera uma decisão da Justiça sobre a lei.
Nesta quarta (5), uma reportagem do jornal Clarín dizia que o governo impugnou a composição do grupo de juízes da Câmara Civil e Comercial que definiria sobre uma possível prorrogação da medida cautelar.