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sábado, 21 de dezembro de 2013

'Bilhete suicida' reforça suspeita de que padrasto planejou matar enteada

Bilhetes coletados na casa do garimpeiro Joaquim Lourenço da Luz, de 47 anos, reforçam a tese da polícia de que ele matou a enteada, a estudante de enfermagem Loanne Rodrigues da Silva Costa, de 19, e se suicidou, segundo o delegado responsável pelo caso, Rodrigo Luiz Jayme. Para ele, o crime foi movido pelo ciúme que o suspeito tinha da garota. O padrasto e a jovem foram encontrados mortos e amarrados juntos em uma árvore, em Pirenópolis, região central de Goiás.
“Foram coletados quatro documentos. Dentre eles um com teor ameaçador, apresentado pela própria vítima quando foi agredida, uma folha de caderno com uma poesia e uma rubrica de Joaquim, outro bilhete em que ele reclamava da jovem ter pintado o cabelo e, por último, um bilhete aparentemente suicida”, explica o delegado.
De acordo com ele, o último bilhete foi apresentado na quinta-feira (20) pela mãe de Loanne e esposa de Joaquim, a faxineira Sandra Rodrigues da Silva. Segundo a polícia, ela afirmou que o bilhete foi escrito há mais de um ano.
No texto, aparentemente assinado por Joaquim, o autor fala de morte: “De tudo meu para o outro. Mim enterra e mim cobre com a toalha do framengo (sic). Alguém acha ainda hoje meu corpo. Adeus Quinzin” (veja imagem abaixo). Em outro bilhete, o homem teria reclamado do fato da jovem ter pintado os cabelos.
As caligrafias dos documentos serão comparadas em exames grafotécnicos. “Estamos obtendo ainda, através da mulher da vítima, uma folha de cheque assinada por Joaquim para ver se um deles [dos documentos], ou todos foram escritos por Joaquim. O resultado desse exame vai ser bastante esclarecedor”, afirma Rodrigo Jayme.

A Polícia Civil aguarda ainda o resultado de laudos feitos nos corpos das vítimas e em objetos encontrados na cena do crime. Segundo o delegado, foi pedida atenção especial aos exames. “Presumo que não vão demorar muito devido à gravidade e comoção popular com o crime”, acredita.
Ainda de acordo com a polícia, aparentemente não foi encontrado nenhum vestígio de violência ou ato sexual recente no corpo da jovem. No local onde os corpos foram encontrados os agentes coletaram, além de mochila e cordas, um isqueiro, toco de cigarro e uma faca, sem vestígios de sangue, mas com impressão digital visível que será comparada com a das vítimas.
“Essas provas e os bilhetes estão formando uma conexão e reforçando a nossa tese”, diz o delegado Rodrigo Jayme.

Apesar da principal suspeita da polícia ser de que Joaquim tenha premeditado o crime, ele não descarta outras possibilidades, como a de duplo homicídio cometido por uma terceira pessoa. “A gente acreditava, e não descartamos também, que o casal foi levado amordaçado para o local do crime e ali teria sido assassinado”, ressalta.
Ciúmes
Testemunhas ouvidas pela Polícia Civil, como a mãe de Loanne, Sandra Rodrigues da Silva, e duas amigas da jovem, relataram a alta frequência com que o padrasto ligava para a jovem. “Segundo as testemunhas, isso acontecia principalmente quando ela ia para festas de madrugada. Ele ficava ligando sem parar, ia atrás dela”, diz Rodrigo Jayme. “As testemunhas e as evidências nos apontam que o Joaquim nutria um ciúme mórbido e doentio pela Loanne”, complementa.

Apesar de relatar o ciúme, a mãe de Loanne e esposa de Joaquim não crê que o marido, com quem foi casada durante sete anos, tenha sido o responsável pelo crime. “Não quero acreditar que seja ele porque ele era muito bom para minha filha. Minha vida desmoronou. Desde o dia em que ela desapareceu, estou sem comer e sem dormir. Não consigo fazer mais nada", disse Sandra.
Seguro
A Polícia Civil investiga se Joaquim teria forjado a cena do crime para que o suicídio dele e a morte da enteada aparentasse um duplo homicídio. Segundo a polícia, o intuito seria que o filho biológico dele fosse beneficiário de um seguro de vida contratado pelo homem em novembro, no valor de R$ 30 mil. Uma testemunha ouvida pelos policiais afirma que Joaquim perguntou no banco onde contratou o seguro sobre a possibilidade da apólice cobrir casos de suicídio.

Os dois filhos de Joaquim, um rapaz de 24 anos e uma jovem de 25, prestaram depoimento na quinta-feira (19). “Ele [o filho] disse que notou que o amor que o pai tinha com a Loanne não era de pai pra filha. Disse ainda que via a menina se esfregando nele [em Joaquim] para conseguir as coisas”, relata o agente de polícia que colheu o depoimento, Alessandro Curado Pinto.
Ainda de acordo com Alessandro, em seu depoimento, a filha de Joaquim afirmou que acredita que tenha sido mesmo o pai quem planejou e executou o crime.

Crime
Loanne e Joaquim foram encontrados mortos na terça-feira (17), no Morro do Frota, área de preservação ambiental e ponto turístico de Pirenópolis. De acordo com a Polícia Civil, padrasto e enteada morreram abraçados, sendo Joaquim com o pé acorrentado e Loanne amarrada com uma corda a uma árvore. Uma faca também foi encontrada no local, mas nela não foram encontrados vestígios de sangue, afirma a polícia.

De acordo com o sargento do Corpo de Bombeiro João Pereira Rosa, a jovem e o padrasto tinham ido até o parque na tarde do dia anterior para tirar algumas fotos do local. Como anoiteceu e eles não retornaram, familiares pediram ajuda à corporação.
Cerca de 18 militares trabalharam nas buscas, mas não conseguiram encontrá-los. Os corpos só foram localizados por volta das 13h por um homem que passava pelo local. Ele acionou os bombeiros.Pertences das vítimas, como celulares e uma bolsa, estavam no local. A perícia localizou ainda uma barraca queimada a 100 metros da cena de crime.
Os corpos de Loanne e do padrasto foram enterrados na manhã de quarta-feira (18), no cemitério de Pirenópolis.